Sentia-me como se o mundo tivesse resolvido me dar às costas... assim mesmo...bem vitima...sentindo pena de mim...me perguntando talvez pela milésima vez (exagero, mas bem perto disso na minha cabeça naquela hora), porque?
Tem horas que parece que todo ar ao meu redor resolveu ir por outro caminho, resolveu não vir de encontro a mim... Sinto-me sufocar... tenho dor nos pés...nos calcanhares pra ser mais exata...o chão que piso agora é duro...mais duro do que o habitual...a agua do meu banho parece sempre fria demais...e minha cama grande demais...
Naquele momento todas as dores da terra habitavam em mim e como se pudesse de alguma forma sentir alivio...ajoelhei-me...mesmo...literalmente como se com isso pudesse me sentir um pouco mais intima de Deus...chorava tanto que não conseguia me concentrar e pensar em algo que não fosse tão mesquinho de se falar com ¨¨ ELE ¨, que não um pedido de ¨por favor, traga meu amor de volta¨....mas no meu intimo, e eu estava mesmo só com ele, meu interior, sentia vergonha de mim por querer de fato falar com Deus e pedir algo tão mundano...
Sempre tive a impressão, que Deus, tem uma porção de coisas pra fazer, cuidar do mundo, da revolta dos homens e de suas guerras inconsequentes, que seria absurdo pedir algo tão individual, algo que não fosse a paz universal ou algo parecido... mas naquele momento deixei mesmo tudo isso de lado, e da maneira mais egoísta do mundo, pelo menos a meu ver ate então...pedi...roguei aquele ser supremo que me livrasse daquela angustia...que me livrasse de achar que tudo não tinha mais solução e que eu era o ultimo dos seres humanos da terra...o mais ínfimo...o pior...porque era assim que me sentia...
Comecei a pensar, que mais uma vez (e foram muitas), estava no meu inferno astral...não sei bem o que significa, mas pela própria simbologia do nome, creio ser um lugar muito ruim, onde os seres, mesmo os de bom caráter, inevitavelmente, as vezes, vão parar...as vezes...esse lugar deveria mesmo ser algo só pra ¨as vezes ¨, quase nunca...mas eu teimava inconscientemente em ir parar lá...
Estava mesmo perdida, e tudo que queria naquele momento era sumir...fugir correndo pra algum lugar tão longe quanto a Groenlândia...queria mesmo desaparecer...
Bom, os motivos que me fizeram chegar a esse estado deplorável, como já devem imaginar...era o amor...ou melhor...a falta dele...
Havia conhecido um homem tão lindo, e gentil, e cavalheiro como aqueles que nossas mães contam, e interessante, e atraente, e tão tudo que é quase impossível de descrever...pior ainda...quando de fato o conheci...descobri que ele era um Deus na cama...todas as coisas que um dia pensei e sonhei encontrar em um homem, sexualmente falando, encontrei nesse homem...e não que fossemos uma releitura do Kama sutra ou algo parecido...não...apenas tínhamos um encaixe perfeito, desses que você diferentemente do amor, talvez só encontre uma vez na vida...aquilo pra mim era o céu...alias, era mais do que o céu...era um lugar belo e encantador onde eu podia viver os meus sonhos e fantasias mais loucas, sem ter medo de errar...era o lugar onde me perdia e me encontrava... várias e varias vezes...sem pressa...sem pudor...era onde tudo fazia sentido e a vida tornava-se bem mais colorida...nossa...e como era colorida...
Mas não era só isso, isso era parte fundamental...mas quando ia encontra-lo, sempre me sentia como se tivesse 15 anos novamente...meu coração ficava acelerado, eu não sabia que roupa vestir, bebia e fumava compulsivamente (so os loucos sabem) porque a ansiedade de efetivamente o ver, não me dava trégua...tinha rompantes de calor e frio e sempre sabia que ao ver o seu sorriso, me sentiria a mulher mais feliz do mundo...
Bom, no inicio...tudo que tínhamos era sexo...ao menos pra ele...ja de minha parte, desde o dia em que o conheci, sabia que minha vida não seria mais a mesma...e todos os meus sentidos, como uma onda vibrante, cheia de força vital, vibravam também no ritmo daquele encontro que mudaria minha vida para sempre...por alguma razão, achei que aquele fosse o homem da minha vida...aquele que ia mudar o curso da história...ao menos da nossa...
Como ele mesmo dizia, tínhamos um jeito meio infantil, quase puro, de lidarmos um com o outro...nos entendíamos nas nossas diferenças e nos nossos desentendimentos...brigávamos, ficávamos um tempo sem nos ver...e quando a saudade batia, não dava mesmo pra se esconder...quando os nossos corpos se encontravam era como se todo o universo saísse do seu lugar e parasse pra nos admirar...o que tínhamos era belo...
Amei esse homem com todas as minhas forças como jamais pude imaginar que poderia...absurdamente me entreguei e me deixei levar como o rio que corre pro mar...a correnteza sempre foi forte demais...
Após algum tempo sem se ver, nós dois nos reencontramos...e foi em uma tarde nublada, mas linda, com o mar de coadjuvante daquele amor e boa musica, e é claro, uma cerveja gelada, que ele se declarou pra mim...disse que estava apaixonado e me queria como mulher...aquele, deveria ser o dia mais feliz de minha vida...afinal...esperei ansiosamente por aquele momento...mas sabia de sua instabilidade e jurei tentar manter meus pés no chão e minha cabeça no lugar...mas já era tarde...na verdade pra mim sempre foi...eu o amava...
Vivemos os dias mais felizes de minha vida...
Naquela tarde, por exemplo, na praia Vermelha, era como se todos os filmes de romance que assisti estivessem reunidos em todas as cenas mais dramáticas e belas de nosso dia dos sonhos...os dias que vieram a seguir, eram pra mim como belas melodias em um radio de pilha...grudado ao ouvido...
De alguma maneira estranha, senti de verdade um encantamento de sua parte e uma vontade louca de me amar, de fazer acontecer, de que de fato eu fosse sua mulher...porém, como nem tudo na vida são flores, a tempestade chegou...com força, arruinando um jardim cultivado com tanto esforço e dedicação...e amor...ela, a tempestade, destruiu as frases carinhosas, os momentos incríveis e a esperança de dias de calor...
Aquele homem, a quem julgava ser o grande e prometido amor da minha vida...ja não me queria mais...eu errei, me arrependi, pedi desculpas, mas talvez, nunca tenha tido de verdade o seu pensamento sincero de um dia me amar...
Ele era ao mesmo tempo a minha tábua de salvação e minha ave de mau agouro...
Mas ainda assim, o queria desesperadamente com todas as minhas forças...e quando a fantasia não se tornou realidade, observei lentamente a fresta que se abria diante de meus pés e que teimava em virar um desastre de proporções inimagináveis...
Eu sou aquela que bebo demais e fumo demais...SINTO CIUMES...ele o cara centrado, ligado nas questões religiosas a seu modo e que não entendeu meu jeito de ser...que não entendeu que talvez eu só estivesse perdida precisando de um porto seguro...
Esse homem me falou tanto de tolerância, que de fato acreditei que, com todas as nossas diferenças, e eram muitas, poderíamos, ainda assim, ficar bem...
Amo esse homem e estou perdida...
Mas voltando ao assunto do inicio, e foi por isso que resolvi conversar com Deus, mais como se ele fosse um amigo e sem saber o que dizer pelos motivos que já apresentei anteriormente, temia dizer: ¨e ai? Gosto muito do seu trabalho...¨
Mas na hora da dor, acho que sempre encontramos um caminho...não sei se a conversa foi com ELE de fato, ou comigo mesma, mas a resposta que obtive, que ouvi em minha mente, foi: ¨Vai dormir Tatiana¨...e entendi que de fato era a coisa mais sabia a se fazer...
Eu queria dormir, e sabia que realmente era o mais sensato...porém com todas as minhas duvidas e minha cabeça a mil...so queria voltar no tempo e viver aquela semana novamente...
NÃO SOU PERFEITA...MAS AMO VOCE...
